Em meio ao caos que se tornou o ano de 2020, o misto entre os sentimentos de dor e revolta fizeram com que as estruturas racistas de toda uma sociedade fossem questionadas.
Foi preciso ouvir “I can’t breathe“, de George Floyd, para que a branquitude entendesse que o racismo não nos deixa respirar há séculos.
Se instaurou uma ameaça ao conforto da suposta ignorância branca e foi preciso se dizer antirracista, para além de ignorar o racismo. Foi preciso fazer mais que “até ter amigos negros” e encontrar novas entrelinhas para se fazer inocente diante das mãos sujas de silêncio que tem cheiro e cor de sangue.
Na era em que toda pessoa é mídia, nenhuma mídia quer ser lida como insensível e desumana, então surgem os escudos que asseguram a pessoa branca em seu lugar colonizador de benevolência e caridade. São discursos jogados de forma vazia, como “estou aqui para te apoiar“, enquanto não se faz mais que compartilhar um link viral em murais sociais com desaparecimento programado.
Os stories no Instagram, por si só, não resolvem os problemas que a branquitude criou para a comunidade negra no mundo inteiro e, mais especificamente, não reparam as vidas das famílias de jovens negros, que morrem no Brasil a cada 23 minutos (dados baseados nos números presentes no Mapa da Violência de 2014).
Utilizar do argumento de não estar em seu local de fala como bloqueio de posicionamento é, no mínimo, desonesto. Afinal de contas, daqui a um mês, se a #VidasNegrasImportam não estiver mais estampada nos trending topics, quando não existirem mais layouts instagramáveis que combinem com as cores do seu feed, quantos destes continuarão antirracistas? Quantos se farão escudo para as nossas dores diárias?
Além das dores físicas, da violência policial e dos nomes em cartazes frente às manifestações, existem as violências simbólicas que acompanham a nossa trajetória. Por sua definição, violência simbólica, parte de uma crítica social desenvolvida por Pierre Bourdieu para nomear a violência exercida sob os corpos de maneira não física, a partir de sequelas psicológicas, como a solidão da mulher negra, a ausência em representatividade midiática, o questionamento da capacidade e o silenciamento.
Além da morte como fator noticiável, quantos negros vivos estão na sua rede de referências? Quantos deles têm voz ativa na tomada de decisões executivas da sua empresa e quantos são os que você indica aos trabalhos em seus mais diversos âmbitos?
Enquanto criadora de conteúdo digital, eu me vejo alvo também. Eu me vejo vitima dessa violência simbólica quando penso que não somos reconhecidas mesmo entregando um conteúdo incrível, inovador e necessário. Dificilmente chegamos aos milhões de seguidores e sabemos que a culpa não é só dos algoritmos.
O racismo nos transforma em usuários menos relevantes para as plataformas e maior que isso, ele nos machuca ao ponto de nos impossibilitar de criar, porque enquanto a sua it-girl-branca-good-vibes favorita passa horas pensando em como encaixar uma publicação com realidades tão duras no seu perfil, é o nosso povo que está com o alvo no peito, que vira nome em cartaz, que perde sua humanidade até que vira estatística e mais número.
Seu follow é validação e propaga uma mensagem. Cabe a você escolher a mensagem que lhe representa e isso também revela sobre a sua dita postura antirracista.
Hoje chorar não tem sido alívio, tem sido gatilho para chorar mais.
VOCÊ É MEU MAIOR ORGULHO!!!!!!!!!!!!
Você é necessária demais!