Militância  //  21.03.2016

BICHA NEGRA: LUTA EM DOBRO

Oi meus amorxs <3 O post de hoje é muitíssimo especial, pois trata de um assunto que chamou não só a minha atenção, mas de mais de 412 mil pessoas no YouTube há um mês: o documentário Bichas (CLIQUE PARA ASSISTIR – https://www.youtube.com/watch?v=0cik7j-0cVU). O audiovisual, produzido pelo amor da vida, vulgo Marlon Parente (23 anos, publicitário, Recife), conta seis fortes histórias de BICHAS bem maravilhindas.

MAS, COMO O BICHAS SURGIU?

Marlon: “O Bichas surgiu depois de um episódio bem triste que eu vivenciei aqui em recife, eu estava indo a uma lanchonete de mãos dadas com um amigo e um cara passou, sacou uma arma e disse que ia atirar porque a gente era bicha. Eu fiquei com medo de sair na rua durante um bom tempo. Aquilo me marcou tanto, que eu me vi com duas opções: ou eu ficava em casa sofrendo com o fato de ter acontecido, ou transformava aquilo em uma coisa boa que me fizesse superar, algo bom, que mostrasse às pessoas que ninguém precisava se sentir ofendido por ser chamado de bicha”.

Depois de entender um pouco mais sobre como o documentário foi idealizado, uma outra questão ainda me deixava curiosa: a presença de João Pedro no Bichas. Não que eu achasse desnecessário, muito pelo contrário, eu achei muito justo dar voz a uma bicha negra dentro desse outro movimento, até porque, por experiência própria, eu sei bem como é combater essas duas forças ao mesmo tempo. Então conversei mais um pouquinho com Marlon e também com João, a respeito desse recorte de raça dentro do movimento LGBT.

ENTÃO, DE ONDE VIERAM ESSAS BICHAS? CADA PRESENÇA TEM UM PROPÓSITO?

Marlon: “Todos os meninos são meus amigos e eu os escolhi não só por terem uma história legal, mas também por serem pessoas muito bem resolvidas com o fato de serem bichas. Acima de tudo, eu convidei várias pessoas com vivências diferentes, porque eu não posso falar de uma história que eu não vivi, eu não posso falar, por exemplo, da vivência da bicha negra, porque eu não sou uma bicha negra. E esse leque de diversidade é capaz de gerar um pouco de identidade em todas as pessoas que assistem”.

QUAL A FUNÇÃO DA PRESENÇA DE JOÃO PEDRO NO DOCUMENTÁRIO?

Marlon: “Eu não só acho assertivo, como acho necessário, essa é a palavra, é totalmente necessária a presença de João Pedro no Documentário. Essa bandeira ela também deve ser levantada dentro do movimento, porque como o próprio João Pedro fala, vocês negros têm outras questões além da sexualidade a tratarem também. A história que o mundo tem para com a comunidade negra é uma grande dívida, inferiorizar, transformar essa galera em escravo pelo tom de pele é simplesmente ridículo. E a gente tem que começar a falar disso agora. Não é que uma causa seja mais importante que a outra, ao meu ver a causa é uma só, que é a busca por respeito, independente da sua cor, orientação sexual, classe social”.

QUEM É JOÃO PEDRO?
João: “Meu nome é João Pedro Simões, tenho 22 anos, sou estudante, e moro em Recife. Eu faço parte de um coletivo negro criado por alguns estudantes da UFPE, chamado Coletivo Afronte. A ideia surgiu de mim mesmo, há pouco mais de cinco meses, e eu convidei algumas amigas para integrarem, ajudando a botar esse desejo em prática”.

COTIDIANAMENTE, COMO VOCÊ SE IMPÕE DIANTE DA DISCRIMINAÇÃO?
João: “Usando o meu black, sem medo, valorizando os traços da minha negritude, andando de cabeça erguida. Ainda mais quando boto um short curto e saio pela cidade. Eu percebo olhares de estranhamento e reprovação na rua, porque as pessoas -ainda- não estão acostumadas a ver um rapaz negro usando short curto e dando qualquer tipo de pinta na rua. O medo de sofrer algum tipo de agressão bate; só me sinto mais seguro dentro da universidade, mas mesmo assim continuo com o queixo levantado e um sorriso de deboche no rosto”.

COMO VOCÊ ENXERGA O NEGRO DENTRO DO MOVIMENTO LGBT?
João: “Atualmente eu vejo um maior entendimento por parte das pessoas brancas LGBTs para com nós, LGBTs pretos. Nós, pretos, estamos nos fortalecendo e cada vez mais elevando nossa voz perante a sociedade como um todo, não só na nossa comunidade sexual ou de gênero. Apesar dessa mudança, desde que comecei a entrar na militância, ainda falta muito pra chegarmos num consenso de que é preciso SEMPRE discutir raça em qualquer ambiente social que estamos inseridos, e que nenhuma pessoa branca está isenta do racismo por conta de sua sexualidade. Sabem que existimos e demandamos, mas ainda há muito o que romperem. E diferente do que alguns dizem, eu definitivamente não vejo um coletivo de raça dentro de um coletivo de gênero como algo separatista, definitivamente não. É algo necessário. Isso não aconteceria se tudo estivesse ok. E o problema não é conosco, tem particularidades, vivências, que só sentimos à vontade de compartilhar entre irmãos e irmãs pretas. Quando sofremos algum tipo de silenciamento no movimento LGBT, recorremos a nossos iguais para pautar essa situação e expor ao movimento. O racismo, infelizmente, é o que nos separa”.

VOCÊ JÁ SOFREU ALGUM TIPO DE DISCRIMINAÇÃO POR SER NEGRO DENTRO DO MOVIMENTO LGBT?
João: “Não passei por alguma situação assim pessoalmente, até porque evito ambientes claramente hostis. Mas em grupos LGBTs, na Internet, rola bastante silenciamento quando pautamos apropriação e exotificação do corpo negro. Um rapaz gay e branco já veio me dizer que ser chamado de macaco é ofensivo, ele entende, porém (ele) usar um turbante e assistir pornô com dois “negões” musculosos não é ofensa, é “celebração da diversidade”. Assim não dá pra manter diálogo, ne?”

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Por hoje é isso, meus amorxs! Eu espero que vocês tenham gostado das visitas desse post tanto quanto eu. Um beeeeeijxs e até a próxima :*

Joicy Eleiny
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