Militância  //  03.12.2015

Entrevista sobre negritude com Gabi da Pele Preta

Ooooooooi amorxs da vida da Xoiss, vocês não têm ideia do quão feliz eu estou por poder voltar pra cá <3 Esta última semana foi inteira de provas e por isso eu andei meio sumida por aqui.

Não é mais dia da consciência negra e toda aquela euforia de apoio aos movimentos acerca se acalmou, mas o assunto de hoje é justamente pra fazer você ver que não tem dia pra ser consciente (não interpretem mal, eu não estou desmerecendo a data e suas comemorações que são de fato extremamente importantes, mas eu acredito que consciência mesmo a gente tem quando luta contra o racismo o ano inteiro). Para deixar esse post ainda mais maravilhindo, eu contei com a ajuda de uma pessoinha bem gente fina que vocês provavelmente já conhecem, a Gabi da Pele Preta. Como não faz o meu tipo cortar falas, eu vou deixar a entrevista na íntegra mesmo. Espero que vocês amem tanto quanto eu estar juntinho dessa lindeza de mulher por um tempinho e aguardem que agora que eu voltei vai ter muita novidade acumulada sendo liberada.

Você é inserida em algum movimento militante nas questões sociais?
Tô iniciando esse processo com a Marcha Mundial das Mulheres que conta com um núcleo aqui em Caruaru. Acho que sou militante na vida, primeiro pela música, depois contra o racismo, seguido do feminismo. Tenho um posicionamento claro, um discurso presente na minha atuação enquanto artista em todas estas questões: a profissionalização da música com requisitos minimamente justos quanto a remuneração, estrutura e relação contratante x músico; o combate ao racismo a começar em mim, através da minha aceitação enquanto cidadã negra e o que isto representa; o feminismo mediante experiências de abuso que poderiam me deixar um trauma muito grande, mas que me fortaleceram ao me direcionarem a uma postura de resistência através do feminismo.

 Você, enquanto artista e pessoa pública, já se sentiu discriminada pela sua cor?
Honestamente, no meio da música, ser negra nunca representou uma dificuldade, muito pelo contrário, inspira respeito. Sei que deve haver inúmeros relatos a respeito disso porque ser negro no Brasil ainda é, inaceitavelmente, muito difícil. Mas comigo, esse processo foi muito tranquilo.
Foi no teatro que, pela primeira vez, eu me vi negra, me entendi negra e me orgulhei disso. Pessoalmente, eu não nasci negra, eu me tornei quando aceitei meu cabelo, minha ancestralidade, minha cor e a história de opressão e luta dos meus antepassados.

 

 Como foi o seu processo de transição capilar?
Eu usei o cabelo liso por uns dez anos, mas antes de ser levada a cachear novamente – explico lá na frente – eu já queria muito voltar a ter meus cachos, mas não tinha força de vontade.
Foi quando, em 2005, eu comecei a fazer teatro e o espetáculo era “Amor Em Tempo De Servidão”, texto de Demóstenes Félix, direção de Gabriel Sá e produzido pela Parangolé Produções Culturais. O espetáculo tinha uma montagem contemporânea da colonização do Brasil e o que isso representou nas relações entre brancos e negros, ou seja, o espetáculo tratava principalmente de racismo através de uma linguagem poética. Eu fazia uma escrava negra e uma fidalga branca que se relacionava bem com negros e índios, mas Gabriel foi taxativo quanto ao cabelo: tem que ser natural. Sugeri tranças, mas ele não aceitou a proposta.
Aí, eu fui deixando crescer usando lenços, usando rabo de cavalo, tranças… e quando o natural alcançou a altura do queixo, cortamos. Foi uma libertação!!!

O que lhe levava a alisar o cabelo?
Tinha a sensação de que cabelo cacheado estava sempre assanhado, despenteado.
Eu tenho muuuito cabelo, era grande, lindooo, mas dava trabalho e na minha cabeça, eu estava sempre assanhada, aí quis ter franja e cabelo chanelzinho como era clássico da meninas de cabelo liso da minha época. Nunca ficou liso como o das minhas migas e também não dava mais pra usar cacheado. Aí segui escrava do alisamento por anos.

Você acompanha blogs de beleza negra?
Na verdade, não. Leio uma matéria ou outra, mas não acompanho assiduamente.

Você entende a liberdade capilar como uma questão social distante do modismo que muitos acreditam?
Poxa! Eu acho que é um processo tão difícil que se for só por moda, a gente desiste. No meio do caminho outras coisas começam a pesar pra que o processo de transição vá até o fim.
Acho que a gente tem que estar livre pra usar como se sentir bem, se não a gente cai no erro de “ter que se enquadrar”, ter que se encaixar em algum padrão novamente. Isso é ruim!
Mas acho que cachear é voltar às origens e isso muda a cabeça, muda a postura, muda o olhar para si mesmo. Muda o jeito de estar no mundo!
Acho que, inicialmente, toda motivação é justa, mas acho que no fim, o resultado são cabeças cacheadas empoderadas e com o olhar para o espelho muito mais seguro e conscientes de si.
Gosto quando Chico César diz:

“Se eu quero pixaim, deixa.
Se eu quero enrolar, deixa.
Se eu quero colorir, deixa.
Se eu quero assanhar, deixa.
Deixa a madeixa balançar.”

 Se você pudesse deixar um recado para uma menina em transição capilar, o que você diria?
Paciência, né? Eu posso dizer, com propriedade que vale muito a pena. Que é libertador mesmo. Encontro hoje, meninas muito mais corajosas que eu que passam a tesoura pelo pé e não se arrependem. Hoje tá muito mais fácil porque tem um monte de blog legal, tutoriais, produtos e salões especializados no nosso tipo de cabelo e muito mais identificação. Tá mais fácil se enxergar nas pessoas, na TV, na internet… Sigam em frente que mulher cacheada, é mulher coroada.

Ah! E sobre esse lugar maravilhinnnnnndo que nós conversamos? É  a loja @micasasucasadeco (☎️81 31363197 ?WhatsApp: 81 99713-4877 ?José Ancelmo de Lira, 72- Maurício de Nassau. Caruaru – PE ?seg-sex: 9h às 18h ?sáb: 9h às 14h) que todxs vocês deviam conhecer:

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Beijo grande!!! Um beeeeeeeeeeeeeeeijxs e até a próxima <3

Joicy Eleiny
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